Comecei a escrever esta newsletter pensando na roda da fortuna. Adoro o tarô, as lâminas todas, em especial os arcanos maiores. A roda da fortuna é um deles. E essa carta representa as voltas, muitas, que a vida dá. E não é que deu mesmo?
Acabamos a última press trip deste ano da Semana Sabor de São Paulo, com as rotas gastronômicas que começamos a percorrer em julho deste ano. Foram sete delas, sete etapas desafiadoras, bonitas, cheias de histórias pra contar, cheias de vida. Impossível entrar numa viagem dessas e sair a mesma pessoa: simplesmente não dá. A roda da fortuna, lembra? Girou, girou, como a lua.
Fazer essas viagens significou conhecer novas formas de viver, outros tipos de casas, de alimentos, de sotaques, uma vida mais lenta, talvez? Ou mais dentro do tempo que corre em seu próprio passo, sem a gente acelerar nada, sem a gente controlar nada. Apenas deixar fluir, acordar com os primeiros raios de sol, dormir quando o céu já está todinho azul marinho, pontilhado de estrelas, uma pintura.
Viver para contar
Dessa forma percorremos sete das 10 Rotas Gastronômicas mapeadas no Estado de São Paulo, a convite da Setur-SP, do Mundo Mesa e do Senac. Fui como jornalista da revista Prazeres da Mesa, para cobrir as rotas, provar os sabores, respirar aqueles ares, encontrar pessoas inesquecíveis, viver e escrever. Como diria Gabo, “vivir para contarla”, viver para contar.
(Aliás, dentre tantos escritores, Gabriel García Márquez é dos meus favoritos. Por que não apenas escrevia literatura como ninguém, como também era excelente jornalista. E suas histórias comovem, despertam, fazem pensar.)
Exatamente como viajar, especialmente as viagens gastronômicas. Tenho a sorte de ter escolhido a profissão que me permite fazer aquilo que sei desde sempre: escrever. Não só escrever sobre o que se passa dentro, mas observar, conversar, entrevistar, sentir e traduzir em palavras o que está de fora, lá fora, no externo, pertinho ou longe, de longe. Mas, sim, escrever. Sempre escrever.
Cheguei, tô aqui, eu vim
Não imaginava, no dia 1º de janeiro deste ano, enfiada em casa, com Covid, que estaria agora, em novembro, finalizando mais uma rota gastronômica, observando as paisagens incríveis do litoral paulista, me recuperando de uma internação de breves (mas intensos) dias, pegando um ônibus, apressada, para chegar logo a Ilhabela, para ficar perto dos meus, para fazer o meu trabalho, para poder respirar aliviada: cheguei, tô aqui, eu vim.
Ainda não é a última newsletter deste ano, é claro que não. Mas com novembro já findando, e a um mês do Natal, posso dizer que meu 2023 foi muito isso: ultrapassar barreiras dificílimas, tomar decisões intuitivamente, sair de lugares apertados, fugir do “laço do passarinheiro”, e chegar. Chegar, estar ali, ir.
Como diz a canção da Gloria Groove: “sobrevivi”.
“Meu amor, o dia amanheceu tão lindo
A gente não tem que se preocupar mais
Faz a mala e me encontra no infinito
A gente só vai precisar de amor e paz”.
(Sobrevivi - Glória Groove e Priscilla Alcantara)
Que texto lindo! Fui na profundidade dessa música, até análise vocal dos dois eu assisti no YouTube. Achei meu hino graças a você! Obrigada amiga! Beijo, Isa.